Em comemoração dos 19 anos da conquista do Assentamento 8 de abril, localizado em Jardim Alegre-PR, foram inauguradas a Escola Municipal do Campo José Clarimundo Filho e o telecentro do projeto De Olho na Terra. A área do assentamento, localizada no interior do Paraná, possui 555 famílias em cerca de 13,8 mil hectares e foi ocupada no dia 8 de abril de 1997.

A ocupação começou em parte da antiga Fazenda Corumbataí, popularmente conhecida como Fazenda Sete Mil, com mais de 1000 famílias organizadas pelo MST. Em 1998, os Sem Terra ocuparam toda a fazenda e em 2004 foi criado o Assentamento 8 de abril. Atualmente, as famílias assentadas estão organizadas em seis comunidades que se dedicam diariamente à educação, à produção, à cultura e à comunicação, através da Rádio Zumbi dos Palmares, que tem 11 anos de existência e um alcance de mais de 100 quilômetros.

Durante o ato político realizado pela manhã, João Orzinkovisk, membro da direção do MST, explicou como o que antes era um grande latifúndio improdutivo se transformou em um lugar de conquistas econômicas, culturais, comunicacionais e sociais para as famílias sem terra.

“Pela ousadia das famílias, acumulamos muitas conquistas nesses 19 anos de assentamento. Temos 180 km de estradas, temos 555 casas de alvenaria. Antes eram só barracos de lona. As famílias acessaram o Programa Nacional de Fortalecimento da Agricultura Familiar (PRONAF), que possibilita a estrutura produtiva do assentamento. Temos a cooperativa com 280 sócios, o colégio estadual, a escola municipal, a Unidade Básica de Saúde, a Rádio Zumbi dos Palmares, caminhões, trator e resfriadores de leite”, disse.

Orzinkovisk também falou sobre a luta dos Sem Terra no estado: “As coisas que construímos aqui no assentamento só foram possíveis pela luta das famílias que conseguiram garantir seus direitos. Direitos estes que hoje estão ameaçados pelo atual governo golpista de Michel Temer, que nós repudiamos, não aceitamos, mas não vamos parar de lutar. Seguiremos pra frente, lutando diariamente para melhorar as condições de vida dos trabalhadores do campo e da cidade”, disse.

Estrutura

Atualmente, no assentamento, existem cerca de 3500 pessoas produzindo para 10 municípios do território do Vale do Ivaí, como Ivaiporã, Jardim Alegre, Arapuã, Godoy Moreira e Lunardelli. Anualmente são produzidos aproximadamente 180 mil sacas de milho, 80 mil sacas de soja, 5 mil sacas de feijão, 20 mil sacas de trigo, 150 mil quilos de hortaliças e 3 milhões de litros de leite que são vendidos para cooperativas da Reforma Agrária e para o comércio regional.

No que diz respeito à comunicação popular, desde o início do acampamento as famílias construíram a Rádio Poste Zumbi dos Palmares, que, após a distribuição dos trabalhadores sem terra nos lotes, foi transformada em uma rádio comunitária livre.

“Nossa rádio iniciou no acampamento, passou por vários espaços desta área. Era uma rádio itinerante, construída por cada Sem Terra, pensada e planejada por nós e hoje continua assim. Temos uma juventude sendo formada que ajuda a tocar nossa comunicação”, comenta Batista, membro da direção do MST.

Durante a festa, foi inaugurado o Centro de Formação em Tecnologias da Informação e Comunicação, um telecentro equipado com laboratório de informática, ilha de edição de vídeo, câmeras, projetores e todos os equipamentos de rádio. O espaço foi construído através do projeto De Olho na Terra, resultado da parceria entre o Laboratório de Educação do Campo e Estudos da Reforma Agrária (LECERA) da Universidade Federal de Santa Catarina (UFSC), o MST e o Ministério das Comunicações.

Trata-se uma conquista da Jornada de Lutas do MST de 2011, realizada no Ministério das Comunicações. Ele teve início em Santa Catarina e foi posteriormente estendido para o Rio Grande do Sul e para o Paraná. Além da infraestrutura e dos equipamentos, o projeto prevê oficinas que vão desde a informática básica e a internet até a produção e finalização de vídeos. Apenas no Paraná, 150 jovens estão em formação; em Jardim Alegre, são 67 jovens.

Aline Korosue, do LECERA, esteve presente no ato de inauguração do telecentro e comentou que para a Universidade Federal de Santa Catarina é um privilégio fazer parte dessa história.

Aline Korosue na inauguração do Centro de Formação em Tecnologias da Informação e Comunicação, no município de Jardim Alegre-PR.

“Primeiro quero parabenizar o assentamento pelos seus 19 anos de luta e resistência e dizer que a inauguração do telecentro tem recurso do Governo Federal, mas só foi possível pela luta dos pais dessa juventude, que hoje tá sendo formada nesse espaço não só tecnológico, mas também de informação. Pra nós da universidade, nós não cumprimos mais que nossa obrigação, a função social da Universidade, e nós temos o privilégio de estar junto com vocês nessa proposta que se ampliou para os três estados do sul do país”, declarou Aline. “Estamos quase terminando este projeto e precisamos do apoio da prefeitura, do governo, para que ele continue, para que a juventude continue estudando e fazendo comunicação popular”, acrescentou.

No Colégio Estadual José Marti são cerca de 350 alunos nos ensinos fundamental e médio. Já na Escola Municipal José Clarimundo Filho, estrutura que foi inaugurada no dia 19 de junho, mas que já estava em funcionamento desde o início de 2016, são aproximadamente 280 alunos na educação infantil e nas séries iniciais do ensino fundamental.

Por Riquieli Capitani.
Com revisão de Alfredo Belohlavek.
Publicado originalmente na página do MST.


500 jovens acampados e assentados da Reforma Agrária dos estados do Paraná, Santa Catarina e Rio Grande do Sul já se preparam para participar, nos dias 1º a 4 de junho, do Seminário Regional da Juventude, que acontecerá no Centro de Cultura e Eventos da Universidade Federal de Santa Catarina (UFSC), em Florianópolis. O evento é fruto de uma parceria realizada entre os setores de comunicação, juventude e cultura do Movimento dos Trabalhadores Rurais Sem Terra (MST) e a UFSC, por meio do projeto De Olho na Terra — Região Sul.

Cartaz do seminário (clique para ampliar).

Segundo a coordenação do projeto, o objetivo é que o encontro seja um espaço de formação e troca de experiências entre os diversos grupos envolvidos. “Queremos empoderar a juventude Sem Terra através de debates e oficinas para trabalhar o campo da Tecnologia da Informação e Comunicação e criar alternativas para construir práticas de comunicação, cultura e arte popular a partir da realidade dos assentamentos”, explica Luciana Frozi, do Coletivo de Cultura.

Neste sentido, nos quatro dias de evento, os jovens terão acesso a discussões sobre vários temas ligados à juventude, à comunicação e à tecnologia, além de oficinas, momentos de integração e socialização de experiências. A recepção das caravanas e o credenciamento dos participantes acontecem na quarta-feira de manhã, quando haverá uma mesa com representantes da UFSC, do Laboratório de Educação do Campo e Estudos da Reforma Agrária (LECERA) e do MST.

O projeto De Olho na Terra — Região Sul

Resultado de uma parceria entre o LECERA, os departamentos de Jornalismo e de Artes e Libras da UFSC, o MST e o Ministério das Comunicações, o projeto visa à criação, nos três estados da Região Sul do Brasil, de telecentros e centros de formação em Tecnologias da Informação e Comunicação (TICs) equipados com laboratório de informática, ilha de edição, câmeras, microfones, projetores etc.

Além da infraestrutura e dos equipamentos, o projeto envolve oficinas que vão desde a informática básica e a internet até a produção e finalização de vídeos.

Para maiores informações sobre o Seminário Regional da Juventude e o projeto De Olho na Terra, entre em contato com o LECERA pela web ou pelo telefone (48) 3721-5417.

Por Catiana de Medeiros.
Com revisão e edição de Alfredo Belohlavek
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Com uma dinâmica de trabalho que envolveu atividades em grupo e reflexões, os jovens apresentaram o que entendem por cultura e como veem o funcionamento da sociedade brasileira, com seus valores essencialmente capitalistas. A oficina faz parte do projeto De Olho na Terra – Região Sul, fruto da parceria entre a Universidade Federal de Santa Catarina (UFSC) e o Movimento dos Trabalhadores Rurais Sem Terra nos três estados da Região Sul do país.

Cerca de 50 jovens acampados e filhos de assentados da Reforma Agrária dos municípios de Tapes, Encruzilhada do Sul, Viamão, Charqueadas, São Jerônimo e Eldorado do Sul, no Rio Grande do Sul, participaram nos dias 2 e 3 de abril de 2016 de uma oficina sobre indústria cultural promovida pelo Coletivo de Cultura do MST. A atividade foi coordenada pelo professor de História e jornalista Miguel Stédile no Centro de Formação Sepé Tiaraju, na região metropolitana de Porto Alegre.

Com uma dinâmica de trabalho que envolveu atividades em grupo e reflexões, os jovens apresentaram o que entendem por cultura e como veem o funcionamento da sociedade brasileira, com seus valores essencialmente capitalistas. Para auxiliar o debate, Stédile apresentou aos jovens o curta-metragem Ilha das Flores, do cineasta gaúcho Jorge Furtado, e o longa-metragem Tapete Vermelho, do diretor paulista Luiz Alberto Pereira.

“Ambos mostram como funciona a sociedade que produz a nossa cultura, a qual está sempre se transformando; não tem como base a solidariedade e a igualdade e não leva em consideração nossa real necessidade. É uma sociedade onde as mercadorias estão acima da vida das pessoas e que através da indústria cultural reproduz seus valores capitalistas nas novelas, nos filmes, nos jornais e nas músicas”, explicou o educador.

Stédile complementou que uma das heranças do golpe de 64 e da ditadura militar é o sistema de comunicação monopolizado — representado pela Rede Globo —, o qual aproveita sua abrangência para reafirmar o status quo da sociedade, atingindo diretamente os jovens do campo e da cidade e enfatizando valores de competitividade e de concorrência em detrimento de um projeto mais humano.

“As consequências disto estão nas mobilizações, onde vários jovens defendem a volta da ditadura e de um sistema autoritário, se propondo a abrir mão de direitos e liberdades civis em troca de uma suposta estabilidade política. Estudar a indústria cultural nos ajuda a entender que os meios de comunicação são parte de um sistema de reprodução de mercadorias e ideias que influenciam na conjuntura política nacional e internacional”, disse.

Após assistir ao filme Tapete Vermelho, os jovens relacionaram o conteúdo ao trabalhador camponês e à sua realidade de vida no campo, a qual na maioria das vezes é tratada com ridicularização e tida como ‘atrasada’ nas produções da indústria cultural.

“Para mudar isto temos que pensar uma nova cultura, que seja diferente do capitalismo, com outros valores. Não precisamos esperar que a sociedade mude para transformar a cultura, podemos começar agora, fazer novos filmes e novas músicas”, apontou Stédile.

A acampada Analise Webery, 19 anos, contou que sempre teve interesse pelo tema e que inclusive mobilizou outros jovens do Acampamento Renascer, de Encruzilhada do Sul, para participar com ela da oficina. Para a Sem Terra, as atividades ajudaram a compreender as formas de atuação do capitalismo e como ele influencia o dia a dia das pessoas através da indústria cultural.

“O que aprendemos vai nos ajudar bastante, pois muitos ouvem falar sobre cultura, mas não sabem exatamente o que ela é e como ela se molda. Agora vamos levar esse debate para o acampamento e pensar maneiras de mudar essa realidade”, declarou.

“O projeto traz conhecimentos em tecnologia, cultura e comunicação e é desenvolvido com a juventude do campo para que ela também possa ter acesso a este tipo de informação”, acrescentou o coordenador do projeto na região metropolitana de Porto Alegre, Gustavo Zimermann de Moraes.

Por Catiana de Medeiros.
Com revisão de Alfredo Belohlavek.
Publicado originalmente na página do MST.


Metodologia da cidade de Rio Negrinho, interior de Santa Catarina, é premiada no prêmio Fundação Banco do Brasil de Tecnologia Social 2015.

(De branco, no centro do quadro) Aline Korosue, do LECERA, e Révero Ribeiro, do setor de comunicação do MST em Santa Catarina, participaram da cerimônia realizada em Brasília no dia 10 de novembro de 2015. (Foto: Divulgação/FBB)

Inclusão Digital para Juventude Rural – De Olho na Terra, premiada na categoria “juventude” do Prêmio Fundação Banco do Brasil de Tecnologia Social, foi criada para fortalecer as ações dos jovens no campo e em assentamentos da reforma agrária. A tecnologia social de Santa Catarina capacita os participantes em tecnologias da informação e comunicação para melhorar a produção de alimentos, a gestão e a comercialização dos produtos rurais.

A iniciativa promove a inclusão digital, a inserção dos jovens rurais no mercado de trabalho, o empoderamento daqueles com histórico de abandono escolar e torna-se alternativa para a permanência dos jovens no campo.

Além de seminários regionais, a metodologia oferece diversas oficinas: como funciona a sociedade, cultura de massas, comunicação popular, teatro, informática básica e avançada, operação de câmera de vídeo, fotografia, edição de áudio e vídeo, design gráfico e rádio e locução.

A implantação do telecentro com internet de banda larga no Assentamento Butiá, município de Rio Negrinho, norte de Santa Catarina, em 2011, permitiu capacitar 27 jovens como agentes comunitários de comunicação para a utilização das Tecnologias da Informação e Comunicação (TICs). Em 2012, a ação foi replicada em outros cinco municípios do estado: Catanduvas, Matos Costa, Correia Pinto, Dionísio Cerqueira e Abelardo Luz. Em 2014, foi a vez dos estados do Paraná e Rio Grande do Sul receberem a tecnologia, com a implantação de três telecentros no Paraná, nos municípios de Jardim Alegre, Rio Bonito do Iguaçu e Arapongas, e três no Rio Grande do Sul, em Pontão, Viamão e Candiota — todos resultado da parceria entre o Laboratório de Educação do Campo e Estudos da Reforma Agrária (LECERA) da UFSC, o Movimento dos Trabalhadores Rurais Sem Terra (MST) e o Ministério das Comunicações.

Para Aline Korosue, responsável pela tecnologia social, estar entre os premiados significa o sucesso das ações desenvolvidas no projeto, como o acesso e aprimoramento no uso das tecnologias da informação e comunicação. “É o reconhecimento das conquistas obtidas por meio da luta de centenas de homens e mulheres pela reforma agrária e pelo desenvolvimento de políticas rurais soberanas e justas, o que é urgente e fundamental para a permanência dos jovens no campo e o acesso às tecnologias da informação”, afirma.

Por Dalva de Oliveira
Com revisão e edição de Alfredo Belohlavek
Publicado originalmente na página da Fundação Banco do Brasil.


Nos dias 12 e 13 de setembro de 2015, a juventude Sem Terra participou de uma oficina sobre comunicação popular no Instituto Educar, localizado no município de Pontão, na Região Norte do Rio Grande do Sul. A atividade é parte do projeto De Olho na Terra – Região Sul, resultado da parceria entre o Laboratório de Educação do Campo e Estudos da Reforma Agrária (LECERA) da Universidade Federal de Santa Catarina (UFSC), o Movimento dos Trabalhadores Rurais Sem Terra (MST) e o Ministério das Comunicações.

No primeiro dia de atividades, Solange Engelmann, da coordenação nacional do setor de comunicação do MST, trabalhou com os jovens, através de vídeos e debates, a democratização da mídia e a comunicação popular. “O objetivo foi levar informações à juventude assentada nas áreas de reforma agrária para que ela compreenda o funcionamento da mídia e desenvolva alternativas para enfrentar o monopólio dos meios de comunicação e novas formas de se comunicar com a sociedade”, explica Solange.

No dia seguinte, os jovens usaram a criatividade e produziram fanzines, pautando questões sociais e resgatando a história de luta do MST pela conquista da terra. Eles também identificaram outras ações que podem ser desenvolvidas nos assentamentos para promover a comunicação interna e o diálogo com a sociedade, como rádios comunitárias, jornais informativos e blogs, além de atividades artísticas e culturais.

Para Aline Lemos de Matos (18), do Assentamento Libertação Camponesa, de Não-Me-Toque-RS, a oficina também ajudará a juventude Sem Terra na missão de repassar o aprendizado e o conhecimento de geração para geração, além de promover o debate sobre a atuação da mídia em meios escolares.

“Hoje existe bastante preconceito em relação ao MST, pois muitas pessoas nos julgam como baderneiros e vagabundos, mas não é assim. Nós temos um objetivo, que é ter terra para poder plantar e tirar dela o nosso próprio sustento, sem prejudicar ninguém. Então a oficina nos ajudará a levar adiante este debate, que é tão importante para o movimento, e a pensar novas alternativas de comunicação para desenvolver em nossos assentamentos e com a sociedade”, declara Aline.

O novo projeto De Olho na Terra – Região Sul, visa à ampliação da experiência realizada em 6 regiões do estado de Santa Catarina para todo o sul do país. Ele prevê dez oficinas por região até o final de 2016 e está sendo executado pelo MST através dos setores de Comunicação, Cultura e Juventude. A oficina Comunicação Popular, em Pontão-RS, foi a primeira realizada no estado do Rio Grande do Sul.

O objetivo do projeto é empoderar a juventude Sem Terra através de debates e oficinas relacionadas às Tecnologias da informação e comunicação (TIC) e criar alternativas para construir práticas de comunicação, cultura e arte popular a partir da realidade dos assentamentos.

Por Catiana de Medeiros
Publicado originalmente na página do MST.